Dr João Batista Damasceno - Cientista político e juiz de Direito. Membro da Associação Juízes para a Democracia.
Magé, neste momento de mudanças políticas, é um laboratório a céu aberto para estudiosos do poder local, do clientelismo e do assistencialismo, fenômenos sociais presentes em quase todo o País, e do coronelismo, que vigeu apenas na Primeira República, mas tratado como peculiaridade daquela cidade. A imputação de práticas oligárquicas unicamente às pessoas com o mesmo sobrenome propicia-lhes responsabilização exclusiva e pode isentar outros grupos delas participantes. A tentativa de realizar eleições limpas em 1996 naquela Comarca, que compreendia os municípios de Magé e Guapimirim, expôs a dimensão do mando local, a formação dos clãs parentais, o empreguismo, o exercício da violência ilegítima por motivações políticas, os mecanismos de financiamento de campanha com dinheiro público, a atividade empresarial demandante de concessão ou licenciamento municipal por membros de tribunais e um peculiar tipo de advocacia por seus filhos. Naquelas eleições, pelo simples primado do princípio da legalidade, um membro de um clã tradicional chegou a dizer-me que eu “jogava muito pesado e que encarecia a reforma das decisões”. Considerei a abordagem abusiva, mas não lhe neguei a razão. O poder dos clãs locais se afirmava pela contemplação de interesses de clãs institucionais, opostos aos da população.
Fonte: O Dia Online
VDF