Magé não é Sucupira, a fictícia cidadezinha baiana da novela, nem a sua pracinha central é um set de filmagem. Porém, as cenas diárias que ali se passam fariam inveja ao autor do sucesso de TV. Se Magé não tem Odorico e as irmãs Cajazeiras, basta-se com a família Cozzolino. No folhetim protagonizado pelo clã liderado por Núbia, a única diferença para a ficção é que não há intervalo para os comerciais. A última cena aconteceu hoje, 03/08/2011. Enquanto a população acompanhava o desfecho de seu depoimento na 65 DP de Magé, Núbia surge a porta da delegacia e insurge contra a multidão que à vaiava, tentando revidar aos gritos e xingamentos, de nada adiantou, para encerrar tentou agredir uma manifestante que lhe hostilizava. Na prática, ele formalizou aquilo que todos já sabiam: mesmo afastada desde setembro de 2009, a ex-prefeita nunca deixou o poder. Apesar das três dezenas de processos em que figura como ré, verdadeiro tour pelos códigos penal e civil, ela ainda é a voz de comando nesta Sucupira fluminense, ao pé da Serra dos Órgãos.
Isolados, os episódios seriam, como diria Guimarães Rosa, “tese para alto rir”. Mas a dinastia Cozzolino, iniciada com o chefe do clã, Renato, eleito prefeito em 1982, tem o seu lado amargo. Para além do folclore político, a família também ficou marcada por casos de corrupção, nepotismo e de violência. Em três décadas, foram três cassações, pelo menos duas prisões, volumosa quantidade de dinheiro desviada – não há um somatório disponível – e alguns assassinatos.
Vociferava Núbia: Não levo desaforo para casa. Se tiver de brigar, eu brigo. Se tiver de bater, bato. Só faltou Núbia atribuir as denúncias, como fazia Odorico, seu provável inspirador de Sucupira, à obra “da esquerda comunista, marronzista e badernenta”.
VDF