Início do século XIV, famílias tradicionais lutam pelo poder em Florença e os cargos públicos ficam à mercê dos interesses políticos. Dante Alighieri é acusado injustamente, pela facção negra dos guelfos, de corrupção financeira, aceitação de suborno, peculato e o que hoje conhecemos como gastos irregulares com campanhas eleitorais. Conhecedor de sua condenação sumária à fogueira e da impossibilidade de defesa, o poeta florentino passa dezenove anos no exílio, quando escreve o ápice de sua obra literária intitulada Comédia. Próximo da realidade dos dias atuais, as descrições do oitavo círculo do inferno, onde jazem os corruptos que se locupletaram com os recursos públicos, são impressionantes e sugerem as punições perfeitas para os pecadores com as respectivas almas cobertas com piche imundo e dilaceradas pelos demônios. O Inferno de Dante é uma leitura que fortalece a indignação dos que assistem aos espetáculos medonhos dos jogos políticos, com a percepção da metafórica e inclemente justiça divina em confronto com os acordos humanos e as mitigadas punições compreendidas nas entrelinhas dos noticiários.
Resta imaginar o que o poeta florentino escreveria ao perceber a realidade no inferno cotidiano de milhões de miseráveis (favelados), no purgatório dos indignados ou nos paraísos deturpados (traficantes e bandidos), escondidos e obscuros, onde brilham apenas os grandes interesses de poucos poderosos (alguns políticos). Será que ainda concluiria a narrativa de seu trajeto com a possibilidade de rever as estrelas? Dante reservou o lugar mais quente do inferno para aqueles que em tempos de crises permaneceram indiferentes...(os ricos que ignoram a realidade).
Fonte: Overmundo
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