São poucos os momentos de tranquilidade para quem mora próximo a Vila Cruzeiro e ao Complexo do Alemão, onde há a maior guerra contra o tráfico já travada no Rio de Janeiro. E, ao contrário do que pode pensar quem vive longe de lá, é justamente nas horas de silêncio que a expectativa aumenta. Para os moradores, essa é a pior situação. Significa que bandidos e policiais estão se organizando para um novo combate. Do lado das forças da lei, prepara-se a invasão do Alemão, numa operação que certamente deixará muitas vítimas, segundo a expectativa da própria corporação. Do outro lado, espera-se uma reação cuja violência já foi mostrada ao longo da semana. Acuados, os bandidos preparam-se para revidar com força total ao ataque dos policiais. Embora esperançosos e que desta vez a ação da polícia resulte em uma paz duradoura, os moradores não estão seguros de que assim será. A moradora Sheila dos Santos, de 34 anos, operadora de telemarketing mora na Chatuba, favela que fica dentro da Vila Cruzeiro, e está acostumada há tempos com o barulho dos tiros. “O clima na Chatuba é de paz nesta sexta-feira, mas sabemos que a bomba deve estourar. A polícia, por enquanto, venceu a guerra. Até comentei com os vizinhos que a favela estava mais calma. O problema é que nunca sabemos o que pode vir por trás disso.” Na quarta, houve intensa troca de tiros entre bandidos e policiais na Vila Cruzeiro. Para meditarmos: Resta imaginar o que o poeta florentino escreveria ao perceber a realidade no inferno cotidiano de milhões de miseráveis, no purgatório dos indignados ou nos paraísos deturpados, escondidos e obscuros, onde brilham apenas os grandes interesses de poucos poderosos. Será que ainda concluiria a narrativa de seu trajeto com a possibilidade de rever as estrelas? Trecho do poema de Dante.
Fonte: Revista Veja
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